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ÁGUAS DO PASSADO
ÁGUAS DO PASSADO
Sempre ouvimos falar de tesouros e cidades submersas, como na história de Atlantida. Mas que tal navegarmos nas águas do passado e darmos um mergulho na história? Na verdade, existem exatamente duas maneiras para que estruturas e até mesmo cidades inteiras vão parar literalmente embaixo da água, de maneira natural ou artificial. Porém as maneiras naturais se dividem em duas, ou por mudanças climáticas ou por catástrofes ambientais.
Um exemplo de cidades submersas por catástrofes ambientais é justamente a cidade de Alexandria no Egito. Mas vocês podem estar se perguntando, mas Alexandria não está submersa… Exatamente, mas nos anos 90 mais especificamente 1996 o arqueólogo francês Frank Godio, juntamente com sua equipe descobriu esse outro lado de Alexandria. Frank Godio deixou uma carreira de sucesso no ramo da contabilidade para se dedicar a arqueologia; eles procuravam pelo então ainda não descoberto túmulo de Cleópatra, apesar de não ter encontrado o túmulo da rainha mais famosa do antigo Egito Cleópatra sétima, chegaram muito perto, e descobriram isso a partir de uma testemunha ocular que esteve em Alexandria apenas quatro anos depois de Cleópatra e Marco Antônio terem sido derrotados por Otaviano Augusto, o geografo grego Etrabão.
Estrabão relata em seus diários de viagem como era Alexandria naquela época, uma cidade fortificada com um grande porto, com vários templos e palácios e um grande farol considerado uma das maravilhas do mundo antigo e uma ilha que pertencia estritamente a rainha Cleópatra onde se localizava o seu porto particular e seu palácio real, a ilha real de Antirrodos.
Porem a baia de Alexandria no Mediterrâneo atual possui cerca de 2 Km quadrados e para tentar diminuir suas buscas Frank Goldio e sua equipe utilizaram os mapas produzidos por Estrabão e sobreposições de mapas atuais como mapas de satélites, e claro que uma busca minuciosa utilizando alta tecnologia como sonar de varredura lateral e ressonância de profundidade. As sobreposições dos mapas e o sonar de varredura mostraram estruturas submersas eles então, tem uma localização.
Sua primeira descoberta no porto submerso, foi um naufrágio, um navio de mais de 30 m de comprimento. A datação por rádio carbono da madeira do navio data o barco da época de Cleópatra. Mas foi ao investigarem a ilha submersa de Atirrodos, que eles começaram a encontrar estatuas gregas, romanas e egípcias, como uma estátua do deus grego Hemes, um busto romano e um pássaro sagrado do Egito.
. Porem próximo ao cais do porto da ilha submersa de Antirrodos os arqueólogos descobrem colunas caídas, claramente uma mistura dos estilos gregos e egípcios, esculpidas em granito egípcio, mas com sulcos bem marcados bem ao estilo grego das colunas atenienses encontradas no Paternom o templo de Athena na Acrópole, já seus capiteis eram decorados com símbolos egípcios tradicionais, como as folhas de palmeiras. Estes pilares formavam colunatas da entrada do palácio real de Cleópatra, já na parte oeste da ilha de Atirrodos eles encontram uma quantidade ainda maior de colunas desta vez bem maiores do que as anteriores com mais de 1,20 de diâmetro e 7m de altura, escupidas em granito vermelho, cobrindo 60m do fundo da baia.
Porem próximo as ruinas do palácio de Cleópatra, Godio e sua equipe encontram estatuas e cabeças de estatuas enormes, a escultura completa poderia ter até 5 metros de comprimento, duas esfinges muito bem conservadas, preservadas sob as aguas do Mediterrâneo, as esfinges geralmente possuem o rosto dos faraós e estas esfinges possuíam o rosto do faro Ptolomeu XII o pai de Cleópatra.
isso indicou a Godio que ele estava muito próximo do templo de Isis o templo particular de Cleópatra e por isso ele as retira do leito marinho pra que se possa fazer moldes de silicone das esfinges além de serem conservadas e estudadas para mais informações.
Contudo, o contexto do sitio submerso, o leito marinho revirado, a presença de cerâmicas quebrada sob as colunas caídas e a direção em que as colunas caíram, mostram que Alexandria sofreou um grande terremoto o qual foi acompanhado por um tsunami.
E isso se comprovou quando Godio examinou os destroços submersos de Faros o grande farol de Alexandria, uma das grandes maravilhas do mundo antigo, que apresentavam os mesmos padrões que as colunas do palácio de Cleópatra.
Mais alguns anos mais tarde, mais especificamente nos anos 2000, Godio e sua equipe descobriram outras estruturas submersas, próximo à área da antiga Alexandria, mas desta vez era uma cidade inteira, a cidade perdida de Heracleom ou Heracleia, como os gregos a chamavam, ou Tonis como os Egípcios a chamavam. Até então esta cidade só era conhecida através de documentos históricos onde era citada, além de ter sido por muitos séculos a maior cidade portuária do antigo Egito. Godio a encontrou através dos relatos históricos, como o do estadista grego Solom que dava pistas de sua localização; Solom dizia que a cidade de Heracleom fora uma rica e prospera cidade portuária as margens do mediterrâneo e próxima ao braço do Nilo de Canopos, braço que desaguava no mediterrâneo e era utilizado para levar as mercadorias pelo Egito através do Nilo.
Contudo foi aí que Godio se deparou com um problema este braço do Nilo não aparecia nos mapas, era como se não existisse, foi ai que uma investigação geofísica da área foi realizada, descobrindo que o antigo braço de canopos havia a muito sido assoreado por detritos, porem ele ainda existia correndo no subterrâneo através dos lençóis freáticos. Agora eles tinham a localização e a confirmação histórica de que as estruturas encontradas através da varredura do sonar de varredura lateral, poderia realmente ser a antiga cidade de Hracleom.
Contudo a cidade estava embaixo de camadas de lodo e cedimentos de milhares de anos, então Godio e sua equipe de arqueólogo subaquáticos, teriam que desenterra-la fazendo isso com a ajuda de dragas que pouco a pouco ia revelando a cidade e seus artefatos, como os retos do principal templo de Heracleom com uma arquitetura greco romana, além de varais estatuas, de deuses e faraós, como também cerâmicas, utensílios de mesa e joias datando do século 3 e 1 A.C, além de moedas de bronze que datam da época do governo de Ptolomeu II e do período bizantino. Esta grande diferença de tempo evidenciada na datação destes artefatos mostrou que a cidade fora habitada por mais de mil anos antes de seu apogeu.
Porem a partir do assoreamento do braço de canopos, os arqueólogos acreditam que a queda e o desaparecimento de Heracleom no mar se deu a partir de uma mudança climática, com as marés aumentando o nível das águas do rio Nilo que por sua vez passou a invadir as cidades portuárias e o aumento do nível do mar acelerou esse processo, submergindo Heracleom nas águas do passado. Porem com o aquecimento global e as novas mudanças climáticas, devemos ouvir as vozes do passado, ou se não as nossas cidades atuais logo serão cidades submersas.
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